Um monitoramento nacional dos custos de produção animal dos principais polos brasileiros faz um raio-X econômico da aquicultura e a iniciativa começa a ser reproduzida para diagnósticos sobre caprinocultura e ovinocultura. O trabalho é realizado por meio de parceria entre Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no âmbito do projeto Campo Futuro. Participam especialistas da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) e Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).
Periodicamente profissionais da CNA e da Embrapa visitam os polos produtivos para, em conjunto com produtores e fornecedores de insumos, estimar a estrutura de custos de produção mais adequada para a região. “A energia elétrica poderá pesar mais para um piscicultor de tanque escavado, que depende do uso de aeradores, em comparação a uma piscicultura de tanque-rede, a qual pode dispensar o equipamento”, exemplifica o economista Roberto Valladão Flores, da Embrapa Pesca e Aquicultura.
O trabalho com a aquicultura, em andamento há dez meses, já visitou os polos de Bahia e Pernambuco, Paraná, Tocantins e Mato Grosso e pretende coletar dados da produção de peixes, em Rondônia, e de camarões e peixes no Ceará e Rio Grande do Norte. Além do camarão vannamei, são alvo da pesquisa as principais espécies de peixe produzidas no Brasil: tambaqui, pintado e tilápia. No estudo sobre caprinos e ovinos, os especialistas da Embrapa Caprinos e Ovinos e da CNA estão identificando e caracterizando as principais regiões produtoras do País.
Modelo de produção local
Assim como na pesquisa com pescado, estão previstos painéis com atores da produção de caprinos e ovinos no segundo semestre deste ano. Com a participação de produtores rurais, sindicatos, associações e prestadores de serviços, os pesquisadores pretendem caracterizar o que seria a propriedade “modal” em cada região, modelo que reúne as principais características dos sistemas de produção locais.
Os dados fornecerão informações valiosas para a pesquisa e para os arranjos regionais. “Será possível detectar, por exemplo, quais ações trarão mais impacto numa atividade. Numa região em que o preço da ração pese muito, a construção de uma fábrica local desse insumo poderá impulsionar significativamente a produção, por exemplo”, explica Valladão.
Essas informações poderão embasar diversos artigos científicos sobre socioeconomia. “Com uma série histórica consolidada, poderemos observar tendências, comparar regiões, sugerir trocas de boas práticas e muitas outras ações que ajudarão produtores, fornecedores, empresas do setor e gestores públicos, além de ser uma rica fonte de dados para análises econômicas”, afirmou o pesquisador. A equipe publicará boletins trimestrais com as análises dos polos produtivos.
“Até agora, tínhamos estudos pontuais para projetos de pesquisa, mas não um levantamento mais abrangente para caprinocultura ou ovinocultura”, endossa Klinger Magalhães, pesquisador da área de Socioeconomia da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE). Para ele, a proposta do Campo Futuro motiva as instituições envolvidas a elaborar um diagnóstico sobre custos de produção em um âmbito territorial significativo, reunindo informações do Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Sudeste – as principais regiões produtoras de caprinos e ovinos no País.
“É, sem dúvida, uma necessidade. Um conhecimento dessa natureza fornecido ao criador é muito bem-vindo”, destaca Edemundo Grassler, superintendente do registro genealógico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), entidade que reúne produtores de 25 estados brasileiros. Segundo ele, as fontes de informação sobre custos de produção na ovinocultura ainda são difusas: pesquisas pontuais de pessoas vinculadas ao setor produtivo, de entidades de classe ou até mesmo provenientes de contatos pessoais com outros produtores. A ausência de informações mais detalhadas dificulta os processos de tomada de decisão, o embasamento de políticas públicas e o gerenciamento das unidades produtivas no meio rural.
Para além da produção
A rede de parceiros informantes permitirá, ainda, que os dados sobre custos de produção sejam atualizados mensalmente, garantindo informação mais fiel à realidade dos centros produtores, além de propor uma nova realidade que pode aproximar ainda mais as instituições de pesquisa do setor produtivo. “Iniciativas como esta são importantes porque o Brasil já tem entidades competentes que podem colaborar com pesquisas ainda mais próximas da cadeia produtiva, seguindo o modelo de países como o Uruguai”, opina Grassler.
Nos painéis que serão realizados com os atores da cadeia da caprinocultura, os participantes ajudarão a identificar a rotina de custos, verificando os gastos assumidos pela propriedade rural ao longo de um ciclo produtivo. Entre eles, os valores de alimentação, medicamentos, adubo, fertilizantes, impostos, encargos trabalhistas, máquinas, equipamentos, levando em conta fatores como depreciações e juros.
A partir de 2016, após a realização dos painéis, os dados serão divulgados pelo boletim Campo Futuro e na publicação Ativos do Campo, disponibilizados pela CNA para sindicatos rurais e federações de agricultura e pecuária em todo o País. As informações também poderão ser acessadas no site da CNA e, futuramente, no Centro de Inteligência de Caprinos e Ovinos da Embrapa.
Perspectivas
De acordo com a equipe da Embrapa Caprinos e Ovinos, a rede de parceiros e informantes que está sendo constituída para colaborar com o projeto Campo Futuro também deverá embasar ações futuras, como a sistematização de indicadores de preços de produtos da caprinocultura e ovinocultura no Brasil. A ideia é ter, também, indicadores para cotação de preços de produtos como carne, lã, pele, leite e seus derivados, nas diferentes regiões do território nacional.
A Embrapa pretende avançar para, futuramente, concretizar o Centro de Inteligência de Caprinos e Ovinos, com um sistema de dados para interface com os usuários por meio de uma página na internet. “O Centro será uma oportunidade para prestar informações para os vários elos da cadeia, como produtores rurais, responsáveis por políticas públicas, entre outros. Temos hoje um cenário propício, com uma equipe estruturada e capaz de analisar cenários, em integração com o sistema Agropensa da Embrapa”, ressalta Ferelli.
Projeto Campo Futuro
Executado pela CNA e Senar, o projeto Campo Futuro se dá em parceria com instituições de ensino, pesquisa e sindicatos rurais, para gerar informações sobre commodities e cadeias produtivas, para acompanhar a evolução dos custos de produção nos principais polos produtores da agropecuária brasileira. Atualmente, o projeto já acompanha indicadores de conjuntura e de desempenho da aquicultura, cana-de-açúcar, café, fruticultura, grãos, bovinocultura de corte e de leite.
O projeto alia capacitação do produtor rural à geração de informação para a administração de riscos de preços, de custos e de produção na propriedade rural. Para cada cadeia produtiva, o Campo Futuro busca conhecer os fatores determinantes da oferta e demanda dos produtos e outros elementos do mercado que influenciam o comportamento dos custos e preços.