A ovinocultura brasileira está longe ainda de diminuir o fosso histórico entre o consumo em alta e a baixa oferta de carne. A melhoria na renda das famílias nesses últimos anos reforça a demanda e dita o ritmo do mercado. “Trabalho com 400 matrizes. Se tivesse 5 mil, sem exagero, eu conseguiria vender toda a produção de cordeiros, que é o ovino abatido com até um ano de idade”, diz Otávio Augusto Zancaner, de 28 anos, produtor em Birigui, no interior de São Paulo, principal Estado consumidor.
Zancaner participa de um programa pioneiro do Frigorífico Marfrig, chamado Fomento Ovinos, cujo objetivo é incrementar o volume e padronizar a matéria-prima entregue à unidade da empresa em Promissão, uma cidade próxima dali. Ele e mais outros 30 fazendeiros recebem desde material genético de alta qualidade até assistência técnica de uma equipe e orientação sobre cruzamentos, manejo e gestão dos apriscos. Seguindo ao pé da letra as recomendações, os ovinocultores têm mercado garantido para os animais que engordam e o frigorífico lhes paga ainda um bônus de até 18% pelo cordeiro.
Como o Marfrig, outros grupos que abatem e distribuem carne, entre eles o Baby Bode, da Bahia, fazem parceria com os produtores visando dar um paradeiro à sazonalidade que perdura e é um dos entraves do setor, que sofre ainda com a abundância de matadouros clandestinos. Já o Minerva Foods, que registra expansão nos pedidos de carne de cordeiros, se abastece no Chile e no Uruguai – principal fornecedor do Brasil.
Também em São Paulo, uma experiência inédita do Grupo Savana, que distribui cortes embalados para restaurantes finos, como o Fasano, inova e incentiva a produção do tri-cross, animal que nasce da cruza industrial de três raças (Santa Inês, Texel e Poll Dorset). “Vivemos um período de mudanças, e muitos criadores aceleram a transição entre a genética e a produção comercial, por conta da crescente procura pela carne. Agora que o produto chegou definitivamente aos supermercados e a outros pontos do varejo, popularizando-se cada vez mais, aguardem novidades”, diz Robson Leite, proprietário do Frigorífico Savana, que começou distribuindo quatro tipos de corte e hoje comercializa 52.