Autora do artigo:
Neila Lidiany Ribeiro (Doutora em Produção Animal).
Introdução
Os ovinos nativos são descendentes de animais trazidos pelos colonizadores portugueses e, mais tarde, pelos espanhóis e franceses. Representam uma grande parte do rebanho brasileiro. São animais rústicos e adaptam-se bem ao semiárido. A raça Cariri é um ovino deslanado, com pelagem típica e definida, e os machos adultos pesam de 70 a 90 kg e as fêmeas de 40 a 50 Kg. A raça Morada Nova é de aptidão para carne e pele de alta qualidade, as ovelhas são muito prolíferas. Já o grupo genético Barriga Negra fartamente difundido na América Central, e nos Estados Unidos sofreu outra influência e apresenta um espesso manto de lã. É um animal de excelente rendimento e extrema rusticidade. E por fim, o grupo genético Cara Curta tem aptidão para carne e pele de alta qualidade, as ovelhas são muito prolíferas.
As espécies de mamíferos apresentam formas diferentes de lidar com o estresse térmico por calor e percebe-se interesse generalizado sobre os mecanismos utilizados pelos organismos para manter a homeostase. Fisiologicamente, os animais reagem diferentemente às mudanças drásticas de temperatura, alterando o comportamento e a produção e, como consequência, sofrem alterações fisiológicas (Silva et al., 2010).
A interação entre os animais e o ambiente e a capacidade de adaptação das espécies e raças são características importantes, pois é com base nelas que se tomam decisões sobre o melhor sistema de criação e estratégias de manejo a serem adotados no intuito de aumentar a produção dos animais (Mirkena et al., 2010). O conforto ambiental além de ser um dos requisitos para que se mantenha uma boa produtividade, passa a ser fundamental para se garantir um grau mínimo de bem-estar em animais alojados em confinamento. O objetivo dessa pesquisa foi de determinar os parâmetros fisiológicos de fêmeas ovinas nativas no terço final de gestação na região semiárida paraibana.
Ribeiro et al. (2008) utilizaram 40 fêmeas ovinas no terço final de gestação, sendo: 10 Cariri (Fig. 1), 10 Morada Nova (Fig. 2), 10 Barriga Negra (Fig. 3) e 10 Cara Curta (Fig.4).
Os parâmetros fisiológicos: temperatura retal (TR), frequência respiratória (FR) e frequência cardíaca (FC) para as fêmeas ovinas nativas criadas na região semiárida do Nordeste brasileiro encontram-se na Figura 5. Observa-se que a temperatura retal da Morada Nova apresentou menor valor, sendo esse fato justificado pelo menor porte dos animais e pelagem mais clara, o que facilita a reflexão dos raios solares, porém encontram-se todas dentro da faixa normal para a espécie ovina que segundo Anderson (1996) é de 38,3 a 40,0ºC.
Figura 5 – Parâmetros fisiológicos das fêmeas ovinas nativas.
Quando a temperatura retal aumenta ou diminui demasiadamente, há indícios de que os mecanismos de dissipação ou de produção de calor são ineficientes. À medida que a temperatura do ar aumenta, a eficiência das perdas de calor sensível diminui devido ao menor gradiente de temperatura entre a pele do animal e a do ambiente. Assim, o animal pode até certo ponto manter a temperatura retal por meio de vasodilatação, pois aumenta o fluxo sanguíneo periférico e consequentemente aumenta a temperatura da pele. No entanto, se a temperatura do ar continuar a aumentar, o animal passa a depender da perda de calor por evaporação por meio da respiração e/ou sudorese. Como os ovinos são menos dotados de glândulas sudoríparas, utilizam mais a FR para manter a homeostase (Arruda et al. 1984).
A frequência respiratória é um excelente indicador do estado de saúde do animal, mas deve ser adequadamente interpretada, pois pode variar conforme a espécie, tamanho corporal, raça, idade, estágio fisiológico, ingestão de alimentos, exercícios, excitação e fatores ambientais (Reece, 2006). Observa-se que os animais das raças Cariri e Barriga Negra além de serem de porte maior, possuem pelagem escura, o que favorece um aumento na TR e na FR. Já a Cara Curta de porte menor possui pelagem mais escura que a Morada Nova e apresenta FR mais elevada que a Morada Nova.
As fêmeas ovinas em estudo apresentam FC acima de 100 bat./ min, tendo a raça Morada Nova o maior valor, seguido da Cara Curta, isto ocorreu porque são animais de pequeno porte, além de estarem no terço final de gestação, promovendo maior circulação de nutrientes do corpo para o feto. Já os outros dois grupos em estudo são animais de tamanho maior, assim apresentaram FC menor.
Os animais domésticos apresentam grande variação na frequência cardíaca sob diferentes testes de tolerância térmica e entre diferentes grupos genéticos, provavelmente devido à diluição ou concentração do volume do plasma sanguíneo, provocado por estresse térmico (Elvinger et al., 1992). Aumento da atividade muscular para controlar o aumento simultâneo da frequência respiratória e redução na resistência vascular periférica promove maior circulação sanguínea para dissipação de calor através da pele, o que são atributos que fazem com que a frequência cardíaca aumente (Al-Tamimi, 2007).
De acordo com os resultados encontrados, os animais apresentaram FR acima da faixa normal para a espécie, mas esses se mostraram altamente adaptados à região em estudo, demonstrando que a pressão de seleção sobre ovinos nativos em regiões semiáridas, constantemente sobre índices ambientais elevados, pode ter elevado naturalmente a frequência respiratória, sem que isso, obrigatoriamente, caracterize situação de desconforto térmico.