Uma estratégia de nutrição adequada para as fêmeas pode trazer impactos na produção de ovinos. As matrizes em gestação ou lactação são consideradas uma das categorias animais mais exigentes em termos de alimentação e o cuidado em termos de manejo nutricional pode influenciar diretamente na condição das crias e na produção de cordeiros.
Nesta quarta-feira (13), resultados de pesquisas sobre estratégia nutricional para fêmeas ovinas na Caatinga foram apresentados a estudantes de universidades e cursos técnicos profissionalizantes em um Dia de Campo na Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral, CE). Foi apresentada uma proposta de planejamento para nutrição em um ciclo que vai de setembro de um ano até setembro do ano posterior.
“Esta estratégia começa com estação de monta no início do período seco, para termos início da gestação ainda no período seco. Você coloca o terço final da gestação no período chuvoso e os cordeiros, que vão ser criados para depois serem desmamados, poderão aproveitar bem o período de chuvas, numa época em que a Caatinga tem mais diversidade de plantas e melhor oferta forrageira”, explicou o médico veterinário Marcos Cláudio Rogério, pesquisador de Nutrição Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos.
Em experimentos realizados no campo experimental da Embrapa em Sobral (CE) e em propriedades rurais, as estratégias de acompanhamento nutricional das ovelhas mostraram resultados de impacto para sistemas de produção. Em um testes com diferentes níveis de suplementação (à base de milho, farelo de soja, torta de algodão e componentes minerais) com ovinos da raça Morada Nova, por exemplo, a frequência de partos gemelares (gestações de gêmeos) passou de 12% para 78%, conforme o percentual do suplemento na dieta foi variando.
As estratégias usadas nestes experimentos compõem o que é chamado de programação fetal na nutrição de matrizes: a estratégia que é aplicada com as fêmeas, mas que traz resposta para os cordeiros. “Se o animal, ao parto, tem escore corporal muito baixo, eu vou levar muito mais tempo e ter maior custo alimentar para recuperar”, reforçou a zootecnista Luciana Guedes, pesquisadora visitante da Embrapa Caprinos e Ovinos.
No Dia de Campo, os participantes tiveram informações técnicas sobre manejo nutricional para fêmeas ovinas, manejo reprodutivo e manejo da Caatinga para fins pastoris, além de conhecerem a aplicação da técnica microhistológica. Utilizada pela equipe da Embrapa Caprinos e Ovinos desde 2013, ela pode auxiliar na identificação mais precisa da composição da dieta dos animais em pasto.
Baseada nas análises de fezes de animais e de plantas coletadas na área de pastejo, a microhistologia pode identificar quais são as espécies forrageiras mais consumidas, permitindo, inclusive, uma determinação mais precisa de acordo com a categoria animal (entre elas, as fêmeas gestantes ou lactantes). “90% das espécies da Caatinga podem participar da dieta de caprinos e ovinos, mas é importante definir estratégias de nutrição mais adequadas, com um planejamento nutricional desde a gestação”, afirmou o zootecnista Wanderson Carvalho, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), que desenvolveu pesquisa de pós-graduação com uso da técnica na Embrapa Caprinos e Ovinos. Ele dividiu com a zootecnista Andreza Andrade, pós-graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) a apresentação da estação.
Relação com manejos reprodutivo e de pastagens
Além das informações mais específicas sobre nutrição, os participantes do Dia de Campo visitaram estações em que viram resultados de pesquisas sobre manejo reprodutivo e manejo de pastagens e puderam observar relações diretas destas temáticas com o desempenho nutricional.
Os critérios zootécnicos e genéticos para seleção de reprodutores e fêmeas foram apresentados pelo médico veterinário Alexandre Monteiro e pelo zootecnista Kleibe Moraes, respectivamente analista e pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos. Eles reforçaram, porém, que a nutrição adequada também é fundamental para um melhor desempenho em termos de reprodução.
Alexandre demonstrou resultados do acompanhamento a uma propriedade rural cearense, que possuía carência em termos de organização e planejamento. Com as orientações da Embrapa, a taxa de gestação (prenhez positiva) chegou a subir de 28% para 85%, mas voltou a cair posteriormente. “Voltou para o estágio inicial porque eles não tinham reserva alimentar suficiente”, destacou ele.
Na outra estação, o zootecnista Éden Fernandes e o engenheiro agrônomo Roberto Cláudio Pompeu, respectivamente analista e pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos, mostraram alternativas de uso sustentável do pasto da Caatinga, aplicáveis a partir dos meses de setembro, para regularizar oferta de forragem e garantir melhor qualidade nutricional.
O Dia de Campo teve participação de estudantes de Zootecnia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), de medicina veterinária do Centro Universitário Uninta e de cursos técnicos profissionalizantes das escolas Guilherme Teles Gouveia, de Granja (CE) e Francisca Neylita Carneiro Albuquerque, de Massapê (CE).
Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP) – Embrapa Caprinos e Ovinos
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